INCOMPETÊNCIA É GENÉTICA NO MPLA

Seguindo a tradição decretada pelas ordens superiores do Presidente do MPLA, a inflação voltou a subir em Angola, pela décima vez consecutiva, fixando-se nos 24,07% em termos homólogos, o valor mais alto em quase dois anos, e nos 2,58% em termos mensais, entre Janeiro e Fevereiro.

Desde Setembro de 2018, quando a variação mensal atingiu os 2,69%, que a oscilação não era tão intensa, sobretudo na província de Luanda, onde os preços aumentaram 3,45% face a Janeiro.

Os dados constam na Folha de Informação Rápida divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística de Angola, que dá conta de um forte agravamento dos preços, determinado essencialmente pela classe “Alimentação e bebidas não alcoólicas”, com 3,12%.

Saúde (3,06%), “Bens e serviços diversos” (2,89%) , “Vestuário e calçado” (2,71%) e “Hotéis, cafés e restaurantes” foram as outras classes de despesa com maior impacto na subida dos preços.
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A variação homóloga de 24,07% representa um acréscimo de 12,53 pontos percentuais face ao mês de Fevereiro de 2023, tendo sido a classe “Alimentação e bebidas não alcoólicas” a que mais contribui para esta subida.

Em Luanda, onde a variação homóloga foi de 32,61%, a classe “Saúde” registou uma variação de 4,43%, enquanto nas classes “vestuário e calçado”, “alimentação e bebidas não alcoólicas” e “bens e serviços diversos” representaram acréscimos de 4,17%, 4,12% e 4,01%, respectivamente.

Recorde-se que, no passado dia 19 de Janeiro, o Banco Nacional de Angola (BNA) anunciou que a taxa de inflação deverá atingir os 19% em 2024, estimando que o Produto Interno Bruto cresça 2,2%, suportado (como não poderia deixar de ser) pelo sector não petrolífero. O anúncio foi feito pelo governador do BNA, Tiago Dias, durante uma reunião do Comité de Política Monetária do banco central europeu.

Segundo o responsável, as estimativas de inflação para 2024 têm como base a aceleração dos termos de troca, insuficiência de oferta de bens e serviços e vulnerabilidade da cadeia de abastecimento interna associada a constrangimentos na cadeia logística internacional. Tiago Dias indicou ainda que Angola fechou o ano de 2023 com uma taxa de inflação de 20%.

Quanto ao crescimento económico, fixou-se em 0,7% do Produto Interno Bruto em 2023, impulsionado pelo sector não petrolífero que terá crescido 2,1%, perspectivando-se que avance para os 2,2% este ano, em resultado dos impactos esperados dos diferentes programas do governo de estímulo ao sector não petrolífero, que deverá aumentar 4,2%, prevendo-se uma redução da produção petrolífera.

Três dia antes, o economista-chefe do Banco Fomento Angola (BFA), José Miguel Cerdeira, reviu a previsão de recessão em Angola em 2023, prevendo que tenha conseguido uma expansão de até 1%, acelerando para até 2,4% em 2024. Por sua vez, a Consultora Oxford Economics avançou com a previsão de uma inflação de 23% este semestre…

José Miguel Cerdeira explicou que houve dois motivos (certamente corroborados também pelo Presidente do MPLA e pelo Titular do Poder Executivo) para considerar que Angola terá crescido em 2023 e que vai crescer ainda mais este ano. Isto já para não falar em 2050…

“Por um lado, esperávamos originalmente uma quebra do Produto Interno Bruto petrolífero bastante mais acentuada, entre os 5% a 6%, mas a segunda metade do ano foi um pouco mais positiva do que antecipávamos, pelo que agora esperamos uma quebra mais suave, entre os 1,7% e os 2,2%, sendo bastante possível que o PIB petrolífero cresça no último trimestre”, explicou o responsável do gabinete de estudos económicos do BFA.

O outro factor que sustentou a revisão é que, “na economia não petrolífera, há sectores que esperávamos ver em recessão, devido à enorme depreciação e resultante inflação, junto com efeitos na confiança, e isso não está a ocorrer”, referiu.

Questionado sobre a previsão para a economia angolana este ano, José Miguel Cerdeira disse esperar uma aceleração da expansão da actividade económica, que deverá, ainda assim, ficar abaixo dos 3%.

“Para 2024, esperamos uma melhoria muito marginal, vai ser um ano muito condicionado pela componente cambial”, respondeu, apontando para um crescimento entre os 1,9% e os 2,4%.

“O que se passou em 2023 é que o Estado está a enfrentar muitas amortizações em moeda externa, menos receitas petrolíferas em dólares, mas sobretudo menos facilidade em obter financiamento externo para a Tesouraria, fora do financiamento que já está alocado a projectos de investimento específico, ou seja, o Estado angolano está a ser forçado a apertar o cinto na dívida externa”, explicou o economista.

O economista-chefe do BFA lembrou, neste contexto, a “fortíssima diminuição da dívida pública externa nos últimos três trimestres, de quase três mil milhões de dólares”, cerca de 2,7 mil milhões de euros.

A saída de moeda estrangeira, acrescentou, está a pressionar o mercado cambial e a disponibilidade de divisas, bem como os gastos do Estado, porque o excedente em moeda estrangeira, agora menor, é utilizado para financiar gastos em kwanzas.

“Essa é a principal realidade da economia angolana: a economia não petrolífera depende de importações e da confiança dos agentes económicos, e como essa realidade ainda não vai mudar este ano, esperamos uma subida apenas gradual do desempenho da economia não petrolífera, a crescer entre 2,4 e os 2,9%”, afirmou.

Para a economia petrolífera, a estimativa para este ano aponta para “um cenário entre a estagnação e crescimento ligeiro, mas a previsão é de 0,3 a 0,8%”, o que fará o total da economia crescer entre 1,9 a 2,4%.

Este ano, os angolanos deverão novamente enfrentar uma subida dos preços, que em 2023 registaram um aumento médio anual de 20%, que deverá crescer ainda mais, para 24%, até final deste ano.

“Vamos ter um novo ano em que a inflação deverá ficar provavelmente sempre acima dos 20%, provavelmente a terminar perto dos 24%, a não ser que o BNA leve a cabo uma política monetária muito mais restritiva do que esperamos”, disse José Miguel Cerdeira.

“Para ser claro, nós já esperamos uma política restritiva, que ainda não se materializou completamente, mas mesmo esse grau de restrição que esperamos, embora tenha o seu papel, não irá trazer a inflação abaixo dos 20% este ano”, sublinhou o economista.

Entretanto, a consultora Oxford Economics prevê que a subida dos preços em Angola chegue a 23% durante este semestre, depois de a inflação de Dezembro ter atingido 20%, o valor mais alto desde Agosto de 2022.

“A inflação saltou para mais de 20% pela primeira vez desde Agosto de 2022; a contínua subida no preço da alimentação e das bebidas ainda reflecte o impacto adverso da desvalorização do kwanza em Maio e Junho de 2023, e deverá continuar a subir durante o primeiro semestre deste ano”, escrevem os analistas do departamento africano da consultora britânica Oxford Economics.

Num comentário aos valores de Dezembro, que mostravam uma subida homóloga de 20,0%, os analistas lembram a aceleração face ao crescimento de 18,2% registado em Novembro do ano passado, em comparação com o período homólogo do ano anterior, e sublinham que também houve um aumento em Dezembro (2,4%) face a Novembro, quando a subida foi de 2,2%.

“A forte fraqueza da moeda desde Maio, com o kwanza a transaccionar perto do pior valor de sempre, nos 833 kwanzas por dólar, levou a um ressurgimento da inflação alimentar, a que se junta o facto de a redução nos subsídios aos combustíveis ter começado a colocar pressão no preço dos transportes, levando a inflação para o valor mais elevado desde agosto de 2022”, dizem os analistas.

Para a Oxford Economics, o Banco Nacional de Angola deverá manter a taxa de câmbio entre os 830 e os 845 kwanzas por dólar até final deste ano, com a inflação a subir para mais de 23% no final do primeiro semestre devido aos efeitos da taxa de câmbio na importação dos bens de consumo.

“A nossa previsão para a inflação mostra que a inflação vai aumentar de uma média de 13,6% em 2023 para 21,3% em 2024”, escrevem, argumentando que “o BNA tem estado relutante em aumentar as taxas de juro desde o ‘crash’ do kwanza devido à fraqueza da economia nacional, subindo apenas as taxas de juro em 100 pontos base desde Novembro”.

Ainda assim, concluem, a previsão é de um aumento de mais 150 pontos base neste semestre, “alicerçada na análise de que a inflação vai continuar a subir e que vai haver uma modesta recuperação económica neste período”.

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